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domingo, setembro 30, 2012

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Meus oito anos.

Se existe em minhas recordações um instante mágico é esse que quero eternizar agora.Meu avô veio de uma família de gente tão apegada as letras e nunca se desvencilhou disso; e a poesia para ele, parecia estar atrelada a religião pois em todo fim de tarde lá estava ele no meio da grande sala que fazia parte daquela enorme casa rosada da rua Elizeu de Alvarenga 1419, a declamar Casimiro de Abreu.

Isso ele fazia todos os dias como se fosse um ritual.Primeiro ligava o esqueleto de um rádio que ficava no alto em uma prateleira improvisada,rezava com Júlio Lousada a oração da ave Maria e depois de forma tão eloquente declamava meus oito anos enquanto eu ficava a admirá-lo e aplaudi-lo com o coração.



Meus oito anos

Oh!Que saudades que tenho
Da aurora de minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor,que sonhos,que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
A sombra dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
Respira a alma inocência
Como perfume a flor;
O mar é -lago sereno
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d´amor!
Que auroras,que sol,que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d´estrelas,
A terra de aroma cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! Meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberto o peito,
Pés descalços,braços nús
Correndo pelas campinas
Á roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos  ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar mangas,
Brincava à beira do mar:
Rezava às ave Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
Oh!Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor,que sonhos,que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Casimiro de Abreu.

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