Setenta reais per capita para as famílias miseráveis que têm filhos entre 0 a
06 anos foi um gesto bastante generoso que vai estimular o convívio familiar
destas pessoas, porque elas irão, com certeza, reunir sob o mesmo teto o maior
número de dependentes para engordar sua renda. Por outro lado mulheres e homens
miseráveis irão correndo para a cama produzir filhos de cinco em cinco anos.
Este é, sem dúvida, um plano quinquenal engenhoso de estímulo à vagabundagem,
claramente expresso nas diversas bolsas-esmola do governo do PT.
É muito fácil dar bom dia com chapéu alheio. É muito fácil fazer gracinha,
jogar para a plateia. É fácil e é um sintoma evidente de que se trabalha (que
se governa, no seu caso) irresponsavelmente.
Não falo pelos outros, dona Dilma. Falo por mim. Não votei na senhora. Sou
bastante madura, bastante politizada, sobrevivente da ditadura militar e
radicalmente nacionalista. Eu jamais votei nem votarei num petista,
simplesmente porque a cartilha doutrinária do PT é raivosa e burra. E o governo
é paternalista, provedor, pragmático no mau sentido, e delirante. Vocês são
adeptos do quanto pior, melhor. São discricionários, praticantes do bullying
mais indecente da História do Brasil.
Em 1988 a Assembleia Nacional Constituinte, numa queda-de-braço espetacular,
legou ao Brasil uma Carta Magna bastante democrática e moderna. No seu Art. 5º
está escrito que todos são iguais perante a lei*. Aí, quando o PT foi ao
paraíso, ele completou esta disposição,enfiando goela abaixo das camadas sociais pagadoras de imposto seu modus
governandi a partir do qual todos são iguais perante a lei, menos os que são
diferentes: os beneficiários das cotas e das bolsas-esmola.
A partir de vocês. Sr. Luís Inácio e dona Dilma, negro é negro, pobre é pobre e
miserável é miserável. E a Constituição que vá para a pqp.
Vocês selecionaram estes brasileiros e brasileiras, colocaram-nos no tronco,
como eu faço com o meu gado, e os marcaram com ferro quente, para não deixar
dúvida d e que são mal-nascidos. Não fizeram propriamente uma exclusão, mas
fizeram, com certeza, publicamente, uma apartação étnica e social. E o PROUNI
se transformou num balcão de empréstimo pró escolas superiores particulares de
qualidade bem duvidosa, convalidadas pelo Ministério de Educação.
Faculdades capengas, que estavam na UTI financeira e deveriam ter sido fechadas
a bem da moralidade, da ética e da saúde intelectual, empresarial, cultural e
política do País. A Câmara Federal endoidou?
O Senado endoidou? O STJ endoidou? O ex-presidente e a atual presidentA
endoidaram? Na década de 60 e 70 a gente lutou por uma escola de qualidade,
laica, gratuita e democrática. A senhora disse que estava lá, nesta trincheira,
se esqueceu disto, dona Dilma?
Oi, por favor, alguém pare o trem que eu quero descer!
Uma escola pública decente, realista, sintonizada com um País empreendedor, com
uma grade curricular objetiva, com professores bem remunerados, bem preparados,
orgulhosos da carreira, felizes, é disto que o Brasil precisa. Para ontem. De
ensino técnico, profissionalizante.
Para ontem. Nossa grade curricular é tão superficial e supérflua, que o aluno
chega ao final do ensino médio incapaz de conjugar um verbo, incapaz de
localizar a oração principal de um período composto por coordenação. Não sabe
tabuada. Não sabe regra de três. Não sabe calcular juros. Não sabe o nome dos
Estados nem de suas capitais.
Em casa não sabe consertar o ferro de passar roupa. Não é capaz de fritar um ovo. O estudante e a estudantA brasileiros só servem para prestar vestibular,
para mais nada. E tomar bomba, o que é mais triste.
Nossos meninos e jovens leem (quando leem), mas não compreendem o que leram.
Estamos na rabeira do mundo, dona Dilma. Acorde! Digo isto com conhecimento de
causa porque domino o assunto. Fui a vida toda professora regente da escola
pública mineira, por opção política e ideológica, apesar da humilhação a que
Minas submete seus professores. A educação de Minas é uma vergonha, a senhora é
mineira (é?), sabe disto tanto quanto eu. Meu contracheque confirma o que estou
informando.
Seu presente para as mães miseráveis seria muito mais aplaudido se anunciasse
apenas duas decisões: um programa nacional de planejamento familiar a partir do
seu exemplo, como mãe de uma única filha, e uma escola de um turno só, de doze
horas. Não sabe como fazer isto? Eu ajudo. Releia Josué de Castro, A GEOGRAFIA
DA FOME. Releia Anísio Teixeira. Releia tudo de Darcy Ribeiro. Revisite os
governos gaúcho e fluminense de seu meio-conterrâneo e companheiro de PDT,
Leonel Brizola. Convide o senador Cristovam Buarque para um café-amigo, mesmo
que a Casa Civil torça o nariz. Ele tem o mapa da mina.
A senhora se lembra dos CIEPs? É disto que o Brasil precisa. De escola em tempo
integral, igual para as crianças e adolescentes de todas as camadas, miseráveis
ou milionárias. Escola com quatro refeições diárias, escova de dente e banho. E
aulas objetivas, evidentemente.
Com biblioteca, auditório e natação. Com um jardim bem cuidado, sombreado,
prazeroso. Com uma baita horta, para aprendizado dos alunos e abastecimento da
cantina. Escola adequada para os de zero a seis, para estudantes de ensino
fundamental e para os de ensino médio, em instalações individuais para um
máximo de quinhentos alunos por prédio. Escola no bairro, virando a esquina
de casa. De zero a dezessete anos. Dê um pulinho na Finlândia, dona Dilma. No
aerolula dá pra chegar num piscar de olhos. Vá até lá ver como se gerencia a
educação pública com responsabilidade e resultado. Enquanto os finlandeses amam
a escola, os brasileiros a depredam. Lá eles permanecem. Aqui a evasão é
exorbitante.
Educação custa caro? Depende do ponto de vista de quem analisa.
Só que educação não é despesa. É investimento. E tem que ser feita por qualquer
gestor minimamente sério e minimamente inteligente.
Povo educado ganha mais, consome mais, come mais corretamente, adoece menos e
recolhe mais imposto para as burras dos governos.
Vale à pena investir mais em educação do que em caridade, pelo menos assim
penso eu, materialista convicta.
Antes que eu me esqueça e para ser bem clara: planejamento familiar não tem
nada a ver com controle de natalidade. Aliás, é a única medida capaz de evitar
a legalização do controle de natalidade, que é uma medida indesejável, apesar
de alguns países precisarem recorrer a ela. Uberlândia, inspirada na lei de
Cascavel, Paraná, aprovou, em novembro de 1992, a lei do planejamento familiar.
Nossa cidade foi a segunda do Brasil a tomar esta iniciativa, antecipando-se ao
SUS. Eu, vereadora à época, fui a autora da mesma e declaro isto sem nenhuma
vaidade, apenas para a senhora saber com quem
está falando.
Senhora PresidentA, mesmo não tendo votado na senhora, torço pelo sucesso do
seu governo como mulher e como cidadã. Mas a maior torcida é para que não lhe
falte discernimento, saúde nem coragem para empunhar o chicote e bater forte,
se for preciso.
A primeira chibatada é o seu veto a este Código Florestal, que ainda está muito
ruim, precisado de muito amadurecimento e aprendizado.
O planeta terra é muito mais importante do que o lucro do agronegócio e a
histeria da reforma agrária fajuta que vocês estão promovendo.
Sou fazendeira e ao mesmo tempo educadora ambiental. Exatamente por isto não
perco a sensatez. Deixe o Congresso pensar um pouco mais, afinal, pensar não
dói e eles estão em Brasília, bem instalados e bem remunerados, para isto
mesmo. E acautele-se durante o processo eleitoral que se aproxima. Pega mal
quando um político usa a máquina para beneficiar seu partido e sua base aliada.
Outros usaram? E daí? A senhora não é os outros. A senhora á a senhora, eleita
pelo povo brasileiro para ser a presidentA do Brasil, e não a presidentA de um
partidinho de aluguel, qualquer.
Se conselho fosse bom a gente não dava, vendia. Sei disto, é claro.
Assim mesmo vou aconselhá-la a pedir desculpas às outras mães excluídas do seu
presente: as mães da classe média baixa, da classe média média, da classe média
alta, e da classe dominante, sabe por quê? Porque somos nós, com marido ou sem
marido, que, junto com os homens produtivos, geradores de empregos, pagadoresde impostos, sustentamos a carruagem milionária e a corteperdulária do seu governo tendencioso, refém do PT e da base aliada oportunista
e voraz.
A senhora, confinada no seu palácio, conhece ao vivo os beneficiários da
Bolsa-família? Os muitos que eu conheço se recusam a aceitar qualquer trabalho
de carteira assinada, por medo de perder o benefício.
Estou firmemente convencida de que este novo programa, BRASIL CARINHOSO, além
de não solucionar o problema de ninguém, ainda tem o condão de produzir uma
casta inoperante, parasita social, sem qualificação profissional, que não
levará nosso País a lugar nenhum. E, o que é mais grave, com o excesso de
propaganda institucional feita incessantemente pelo governo petista na última
década, o Brasil está na mira dos desempregados do mundo inteiro,a maioria qualificada, que entrarão por todas as portas e ocuparão todos os
empregos disponíveis, se contentando até mesmo com a informalidade. E aí os
brasileiros e brasileira vão ficar chupando prego, entregues ao deus-dará, na
ociosidade que os levará à delinquência e às drogas.
Quem cala, consente. Eu não me calo. Aos setenta e quatro anos, o que eu mais
queria era poder envelhecer despreocupada, apesar da pancadaria de 1964. Isto
não está sendo possível. Apesar de ter lutado a vida toda para criar meus cinco
filhos, de ter educado milhares de alunos na rede pública, o País que eu vou
legar aos meus descendentes ainda está na estaca zero, com uma legislação que
deu a todos a obrigação de votar e o direito de votar e ser votado, mas gostou
da sacanagem de manter a maioria silenciosa no ostracismo social, alienada e
desinteressada de enfrentar o desafio de lutar por um lugar ao sol, de ganhar o
pão com o suor do seu rosto. Sem dignidade, mas com um título de eleitor na
mão, pronto para depositar um voto na urna, a favor do político
paizão/mãezona que lhe dá alguma coisa. Dar o peixe, ao invés de ensinar a
pescar, esta foi a escolha de vocês.
A senhora não pediu minha opinião, mas vai mandar a fatura para eu pagar. Vai.
Tomou esta decisão sem me consultar. Num país com taxa de crescimento
industrial abaixo de zero, eu, agropecuarista, burro-de-carga brasileiro, me
dou o direito de pensar em voz alta e o dever de me colocar publicamente contra
este cafuné na cabeça dos miseráveis. Vocês não chegaram ao poder agora. Já faz
nove anos, pense bem! Torraram uma grana preta com o FOME ZERO, o bolsa-escola,
o bolsa-família, o vale-gás, as ONGs fajutas e outras esmolas que tais.
Esta sangria nos cofres públicos não salvou ninguém? Não refrescou niente?
Gostaria que a senhora me mandasse o mapeamento do Brasil miserável e uma cópia
dos estudos feitos para avaliar o quantitativo de miseráveis apurado pelo
Palácio do Planalto antes do anúncio do BRASIL CARINHOSO. Quero fazer uma
continha de multiplicar e outra de dividir, só para saber qual a parte que me
toca nesta chamada de capital. Democracia é isto, minha cara. Transparência.
Não ofende. Não dói.
Ah, antes que eu me esqueça, a palavra certa é PRESIDENTE.
Não sou impertinente nem desrespeitosa, sou apenas professora de latim, francês
e português. Por favor, corrija esta informação.
Se eu mandar esta correspondência pelo correio, talvez ela pare na Casa Civil
ou nas mãos de algum assessor censor e a senhora nunca saberá que desagradou
alguém em algum lugar. Então vai pela internet. Com pessoas públicas a gente
fala publicamente para que alguém, ciente, discorde ou concorde.
O contraditório é muito saudável.
Não gostei e desaprovo o BRASIL CARINHOSO. Até o nome me incomoda. R$2,00 (dois reais) por dia para cada familiar de quem tem em casa uma criança de zero a
seis anos, é uma esmolinha bem insignificante, bem insultuosa, não é não, dona
Dilma?
Carinho de presidentA da república do Brasil neste Momento, no meu conceito, é
uma campanha institucional a favor da vasectomia e da laqueadura em quem já
produziu dois filhos. É mais creche institucional e laica. Mais escola pública
e laica em tempo integral com quatro refeições diárias. É professor dentro da
sala de aula,
do laboratório, competente e bem remunerado. É ensino
profissionalizante e gente capacitada para o mercado de trabalho.
Eu podia vociferar contra os descalabros do poder público, fazer da corrupção
escandalosa o meu assunto para esta catilinária.
Mas não. Prefiro me ocupar de algo mais grave, muitíssimo mais grave, que é um
desvio de conduta de líderes políticos desonestos, chamado populismo, utilizado
para destruir a dignidade da massa ignara. Aliciar as classes sociais menos
favorecidas é indecente e profundamente desonesto. Eles são ingênuos, pobres de espírito, analfabetos, excluídos? Os miseráveis são. Mas votam, como qualquer
cidadão produtivo, pagador de impostos.
Esta é a jogada. Suja.
A televisão mostra ininterruptamente imagens de Desespero social.
Neste momento em todos os países, pobres, emergentes ou ricos, a população
luta, grita, protesta, mata, morre, reivindicando oportunidade de trabalho.
Enquanto isto, aqui no País das Maravilhas, a presidente risonha e ricamente produzida
anuncia um programa de estímulo à vagabundagem. Estamos na contramão da
História, dona Dilma!
Pode ter certeza de que a senhora conseguiu agredir a inteligência da minoria
de brasileiros e brasileiras que mourejam dia após dia para sustentar a máquina
extraviada do governo petista.
Último lembrete: a pobreza é uma consequência da esmola. Corta a esmola que a
pobreza acaba, como dois mais dois são quatro.
Não me leve a mal por este protesto público. Tenho obrigação de protestar, sabe
por quê? Porque, de cada delírio seu, quem paga a conta sou eu.
Atenciosamente,
Martha de Freitas Azevedo Pannunzio
Fazenda Água Limpa, Uberlândia, em 16-05-2012