Mas também não
desprezo os homens que carregam dentro de si, um sublime beija-flor e jamais se
envergonham disso. Porque os outros que ficam a mercê do machismo, são apenas
“homens” mergulhados na penumbra, sob os corpos nus e desfigurados de suas
mulheres tão desconhecidas; homens mestres dos prazeres que se acabam após um
estremecimento de corpos, gritos de prazer e, abandonam as suas vítimas como
algo reciclável nos escombros, enlameadas apenas com gotas espumosas que
esmaecem entre os minutos deixando apenas um cheiro de frustração.
Verônica e a flor do seu sexo
Se um homem tem lá
os seus muitos segredos que chegam a ameaçar sua integridade... Imagine um beija-flor...
Ele também tem os seus, e os guarda consigo, apenas por não ter alguém com quem
compartilharem as suas tantas histórias, simplórias, mas tão glamourosas vividas
no meio das flores, que perfumam e enternecem o universo de nós, seres humanos.
Aliás, é preciso ter a alma impregnada de ternura para compreender um
beija-flor; porque enquanto alguns homens se exasperam a procura de algo que
possa calar os anseios de seus corpos, o terno beija-flor embriaga-se de
perfume e beleza e busca alguma coisa além da cópula, do prazer e do egoísmo,
ao adentrar no meio das flores para viver os seus muitos eflúvios. Acho
desperdício alguns homens protagonizarem tantas histórias e não poderem se
orgulhar de nenhuma delas, pois entre um homem e um beija-flor; prefiro um
beija-flor, que passeia sem esboçar nenhum tipo de preconceito, tanto nos
jardins das mansões monumentais, como nos brejos e lagares dos humildes
quintais onde existe cheiro de amor, ignorando deficiências. Mas também não
desprezo os homens que carregam dentro de si, um sublime beija-flor e jamais se
envergonham disso. Porque os outros que ficam a mercê do machismo, são apenas
“homens” mergulhados na penumbra, sob os corpos nus e desfigurados de suas
mulheres tão desconhecidas; homens mestres dos prazeres que se acabam após um
estremecimento de corpos, gritos de prazer e, abandonam as suas vítimas como
algo reciclável nos escombros, enlameadas apenas com gotas espumosas que
esmaecem entre os minutos deixando apenas um cheiro de frustração. É preciso
acender a luz!Para iluminar a alma e despertar os homens que ainda estão no
escuro dando-lhes a oportunidade de fazerem emergir de dentro de si, o sublime
beija-flor que se irradia diante dos olhos daquelas que buscam algo além da cópula;
por que: “Só a alma pura conhece a fisionomia do amor!”.
O segredo daquele
estupendo beija-flor, tão intenso em meu quintal, era simplesmente “Verônica”
uma flor tão esquisita, aspecto diferente, formato saliente, aroma desconhecido,
corpo franzino a esboçar fragilidade atolada no lagar; e tudo a diferenciava
das demais, e parecia torná-la tão insignificante, apesar do jeito cândido que
enfeitava o seu rosto como se fosse um véu a esconder tamanha beleza que a
fazia sutilmente viçosa por trás do anonimato que a impedia de publicar-se. Mas
vi aquele intenso beija-flor, naquela noite aproximar-se dela para viver mais
um de seus muitos devaneios, talvez o último. Pois, aos poucos foi se despindo
até tornar-se completamente nu e tão insignificante quanto ela. Afinal, para se
conquistar o que é belo em extravagância, é preciso se aproximar, despir-se e
tornar-se igual àquilo que nos parece insignificante porque, muitas das vezes, é
a vaidade da beleza que ofusca o enleio da conquista. Quem sabe se um homem
vier a despir-se totalmente de tudo aquilo que o torna tão vaidoso e insensível,
não encontrará dentro de si mesmo a pureza, a meiguice, a ternura, o ser ingênuo
e a sublimidade de um sutil beija-flor?Como aquele que recebera permissão para
chegar-se à tenra Verônica; e: “Tocá-la com sutileza e calma beijá-la na face
enchê-la de graça e beleza e sem disfarce alcançar-lhe o corpo e também a alma”.
E descobrir que Verônica, apesar de tudo, não era simplesmente uma única flor;
mas... Duas, porque apesar das coisas que a desfigurava, ainda havia a corola
que lembrava uma borboleta, aumentando-lhe o aspecto, e ali estava o seu maior enigma:
Verônica era uma flor, dentro de outra flor. Cópia de uma mulher, que abriga
outra mulher dentro de si: “a alma”. Assim, Verônica era constituída de dupla e
rara beleza que a transformava em um nobre mistério e a designava como duas gêmeas.
Uma era o corpo, a outra a alma Uma era a rosa, a outra mulher e ambas, um só
mistério a ser desvendado. E a aproximação daquele sutil beija flor,
explicou-me os meus tantos porquês, sobretudo ter escolhido o meu humilde
quintal para viver suas experiências. Lá no lagar estava Verônica, a flor que
nunca se entristecia, não despencava e, mesmo com o impetuoso bailar dois
ventos que arrasava e arrastava os imensos jardins, ela não pendia, nem para um
lado ou para o outro, e muito menos deixava uma pétala sequer abraçar o vento e
ir embora com ele, pois dançava harmoniosa, tornando tudo a sua volta, em uma
doce brisa que chegava a me embriagar... Verônica nunca chorava acho eu, pois
jamais experimentara o fel que machuca as mulheres, ou os desatinos que
encerram a vida das outras rosas. Era feita de beleza, cercada de enigmas, cultivada
pela presença daquele beija-flor que a amava intensamente e a eternizava para sempre.
“Eu era um homem que de amor nada sabia e ele, um lindo beija-flor que conhecia
Verônica e a vivificava todos os dias; porque, só ele possuía a seiva que
alimenta as flores e entorpece as mulheres: O amor”. Existem homens que se
envaidecem pela bigamia, mas se autoflagelam porque tendo duas ou mais mulheres,
não conhecem a nenhuma delas. Por que: É preciso ter sutileza, coragem, sede de
amor, para conhecer o núcleo de uma mulher, quanto mais de uma rosa. E qual é o
homem que estará disposto a imitar um beija flor em tudo aquilo que se refere
aos sentimentos puros de uma mulher?E então experimentar o gosto do verdadeiro
amor dentro de si mesmo, algo que pudesse torná-lo imensuravelmente completo. Não
preciso dizer que pelas leis de alguns povos aquele beija-flor deveria ser
considerado bígamo, pois cobiçava as duas rosas, mas, a única coisa que poderia
eximi-lo de culpa era o amor que irradiava com tamanha sinceridade por suas
duas Verônicas, e isso era um de seus grandes segredos que não o fazia vitima
de quaisquer punições porque, apesar de tudo, era sábio fiel as suas duas, que
na verdade era uma só para ele. Nomeei aquele beija- flor de Leonardo, pois
esse foi o nome que ouvi numa tarde de outono quando a chuva fina começou a
cair tão feliz e ousadamente banhou o corpo nu do sublime beija- flor que sem
nenhum pudor, pousou sobre a corola de Verônica encolheu-se e, adentrou o seu
corpo eternizando um instante; onde ouvi tão somente gemidos que exalavam a
felicidade de uma flor que em forma de mulher, naquela noite estava ali, ao meu
lado com as mãos manchadas de sangue que escrevia nos lençóis brancos a
primeira página de uma linda história de amor entre uma mulher e um homem que
com tamanha galhardia espelhando-se na sublime história daquele beija-flor,
ignorou o fato de que sua alma gêmea fosse hermafrodita.
Tony Caroll.
Acender a luz
ResponderExcluire iluminar a alma,
sempre necessário.
Obrigado pelo seu comentário.
ResponderExcluir