E entre os sonhos do menino estavam simplesmente os vaga-lumes a povoar a mente e encher o coração de fantasias.Coisa que hoje em dia as crianças não tem mais pois lhe furtam a inocência com tantas invenções como eletrônicos,jogos violentos e tudo o que geram raízes e criam homens prematuros que nunca tiveram o doce sabor de compreender o que é a infância.O sexo está na janela quando o controle remoto nos faz assistir crianças sendo obrigadas a se comportarem como adultos dentro de um cenário capitalista onde parece que muitos pais querem vender os filhos para um sistema que possa lhe render fundos ou em nome de uma frustração se realizarem através dos inocentes que já não tem mais o direito de viver sua infância entre fábulas.Oferecem aos pequeninos tantas opções para se sentirem adultos,presenteiam-lhes com tantas coisas vãs como se quisessem comprá-los e depois choram copiosamente quando os veem se tornarem adultos com saudades da infância.
Na estrada do amanhece
Tubi
não acreditava que no mundo tivesse um lugar melhor do que o Amanhece. Lá ele
nasceu, e se dava por feliz. O Amanhece era bom sem comparação apesar de certos
aborrecimentos que bem podia não ter. Um: ninguém acreditava muito nas coisas
fora do comum que Tubi estava sempre descobrindo, ou vendo; diziam que não
podia ser, era absurdo, ele tinha sonhado, onde já se viu; tanto que ele não
estava mais contando nada, a não ser à mãe, assim mesmo só conforme a
disposição dela. O que fez tomar essa precaução foi o caso dos vaga-lumes. Ele
tinha andado correndo atrás de vaga-lumes no vassoural em frente a casa,lanhou
as pernas muito mas conseguiu pegar um prender numa caixa de fósforos.Na cama
de noite ele olhava a caixa e via quando o vaga-lume estava de luz
ligada.Quando viu que ia dormir ele pôs a caixa no chão para não rolar por cima
dela e esbandalhar o vaga-lume,mas perto da mão para poder apanhar mais,agora
era fácil,bastava fechar a mão a esmo para pegar uma porção de cada vez,num
instantinho ele encheu uma gamela meiãnzinha.Ele ia levar a gamela para dentro
de casa com a ideia de arranjar bastante linha e pendurar todos eles nos
caibros da varanda,depois acordar a mãe para ela ver a casa iluminada com
aquelas lanterninhas,invenção dele;mas caiu na asneira de deixar a gamela do
lado de fora enquanto procurava a linha,e quando voltou um bezerro tinha comido
todos os vaga-lumes e ainda lambia os beiços,com certeza esperando mais.Tubi
procurou uma vara,um ferrão,qualquer coisa para castigar o bezerro,rodou,não
achou,e quando olhou de novo quase não acreditou.Com a barriga inchada de
vaga-lumes,o bezerro parecia um balão cheio de luzinhas que acendiam e apagavam
desencontrado,até se via o sombreado dos ossos das costelas no couro
esticado.Tubi tocou a barriga do bezerro para ver se estava quente ou fria,o
bezerro não gostou e saiu de perto,levando aquele azulado pelo chão,como se
fosse uma sombra clara,saltou o rego,prateando a água na passagem,e sumiu numa
moita de cana;mas mesmo escondido o clarão bojudo estava lá nas
moitas,denunciando.De manhã Tubi correu ao curral na frente de todo mundo para
ver se tinha acontecido alguma coisa ao bezerro,se ele tinha morrido,ou
vomitado,ou adoecido.Que nada,o ladrisco já estava encostado na
porteira,lambendo a mãe pelo vão de duas tábuas e berrando,doido para chegar a
hora de mamar,parecia que não tinha feito travessura nenhuma durante a
noite.Mas Tubi ficou preocupado,vigiou muito o bezerro,olhou se ele mamava
direito,e quando viu ele se deitar perto da mãe no esterco do curral com os
olhos meio fechados,cansados das cabeçadas que dava no úbere para puxar o resto
do leite deixado pelo vaqueiro,Tubi achou que podia ser já o sinal do
adoecimento,e correu para dizer ao pai na mesa do café que convinha dar um
purgante ou qualquer remédio àquele bezerro branquinho filho da Mandinga.—Purgante
pro bezerro? Por que agora?—Ele… vai ficar doente. Acho que já ficou. — O pai
olhou para ele desconfiado, investigando. —O que foi que o senhor já andou
fazendo com o bezerro?—Nada não, pai. Foi ele mesmo. Comeu uma gamela
cheinha de vaga-lume. Os pais se entreolharam e compreenderam que o bezerro não
estava em perigo. —Vai fazer mal. Ele já está deitado, de olhos fechados disse
Tubi. —Onde foi que ele achou tanto vaga-lume?-Perguntou a mãe. —Tubi baixou os
olhos, confessou: — Eu peguei ontem de noite. —Você pegou e deu para ele? –
Perguntou a mãe. Tubi explicou o acontecido, deixando claro que não tivera
culpa; falou do brilho na barriga do bezerro, do clarão na moita de cana dos
ossos das costelas aparecendo com o pisca-pisca dos vaga-lumes – de repente
parou: não adiantava continuar, ninguém estava acreditando. Nunca mais ele
contaria nada a ninguém. Mas de noite, na hora de lavar os pés para dormir, a
mãe puxou o assunto e ele reconsiderou. Estavam sozinhos na cozinha, ela
mornando o leite para ele tomar com beiju. —Como foi mesmo a história dos
vaga-lumes?—ela perguntou.
José J.Veiga.
Por Tony Caroll.
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